segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Palavras



Há algum tempo, em uma de minhas andanças pelo mundo virtual, me deparei com a mensagem de um colega que dizia: "Te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir", ou algo parecido. Não sei quem era a pessoa amada, mas pelo visto eu fazia parte desse todo mundo para o qual ele estava gritando. Parei para refletir um pouco e achei vulgar a atitude. Me pareceu exibicionismo barato, atitude de quem se preocupa mais em exibir um status de relacionamento que supõe ser digno da inveja alheia.

É claro, posso estar enganado quanto ao sentimento genuíno da pessoa. Aliás, quem sou eu para ousar interpretar um campo de sensações tão abstratas? De qualquer maneira, acredito que o verdadeiro amor se manifesta por outros meios. Ele torna-se evidente no encaixe perfeito das mãos, na cumplicidade da troca de olhares, nos sorrisos discretos com o canto da boca. Quem ama não precisa gritar. O amor te preenche e irradia a seu redor involuntariamente. "E até quem me vê lendo o jornal na fila do pão sabe que eu te encontrei".

Peço que não me julguem contrário ao romantismo, mas não acredito em grande manifestações de amor. Acredito sim nos pequenos gestos, nas atitudes do cotidiano, nas mensagens discretas feitas para serem entendidas só por uma pessoa. E o "eu te amo"... Ah! O "eu te amo" só pode ser sincero quando dito num sussuro. Ao pé do ouvido.

BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho

Não o grites de cima dos telhados

Deixa em paz os passarinhos

Deixa em paz a mim!

Se me queres,
enfim,

tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..

Mário Quintana

Presença


Imagem de Luis Cavalheiro, retirada daqui.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

sábado, 4 de outubro de 2008

Sobre o invisível



A necessidade irrefreável de racionalizar cada gesto impede qualquer tipo de sossego, por mais que seja desejado. Alguns gestos simplesmente não correspondem ao imaginado. Alguns mistérios não têm explicação.
O ideal seria a transparência. Límpida. Penetrável. Mas a essência humana tem seu meandros, seus becos. Perder-se nesse labirinto é de uma facilidade assustadora.
Pode ser temível a utilização corriqueira de clichês, mas sentir com o coração, em alguns casos, é o mais sábio ensinamento daqueles que já viveram mais tempo.