Li com entusiasmo no site da Folha a notícia de que o José Saramago acaba de lançar um blog. A animação foi instantânea, pois os textos dele me enchem de satisfação. É indescritível o prazer que sinto ao ler um livro do mais importante escritor da língua portuguesa da atualidade.
Reunindo expectativas gigantestas, abri ansiosamente o link do blog e eis que me deparo com o post: "Geoge Bush, ou a idade da mentira". Fiquei com vergonha. A decepção foi proporcional às expectativas iniciais. Escrever um texto sobre a imbecilidade do presidente americano virou lugar-comum. Denominar Bush de "mentiroso compulsivo" e usar as mentiras sobre a motivação da Guerra do Iraque como base de argumentação é uma tremenda ausência de novidade. Me depcionou muito ver o estilo charmoso do Saramago contaminado pelo pensamento político banal.
Isso me lembrou das conversas com um amigo português. Dizia ele que não conseguia gostar dos livros do Saramago e o motivo seria uma ojeriza ao indivíduo, e não propriamente ao escritor. Um notável preconceito que o impedia de poder apreciar os belíssimos romances do seu conterrâneo. Contou-me que Saramago recorrentemente polemizava em torno dos mais diversos assuntos da vida política, social e religiosa portuguesa. E é fato: radicais, de qualquer tipo, em pouco tempo se tornam chatos.
Outra figura ilustre também segue o exemplo do Saramago. O Morrissey, ex-vocalista da banda The Smiths e atualmente em carreira solo, não titubeia em lançar comentários politicamente incorretos. Também aprecio enormemente a obra do Mozz, mas fica difícil admirá-lo diante de comentários velados com conteúdo xenófobo e racista, ou após frases do tipo: "Eu preferia que o Bush morresse e não o Reagan". Mais uma vez o Bush...
Pra evitar maiores desilusões vou preferindo a criação e tentando distanciá-la do criador. Não é um exercício fácil, mas vale a pena ignorar o polemicismo bobo se isso me permite apreciar plenamente um Evangelho Segundo Jesus Cristo e ouvir sem pretensões uma belíssima I Know It's Gonna Happen Someday.
3 comentários:
Radicais se tornam chatos, eis uma grande verdade. Não gostei do blog do Saramago, nem do site. Olhei bem correndo, mas não me prendeu.
Abraço.
Tinha visto o blog do Saramado, mas não consegui abrir no dia, devia ter congestiodado de adoradores cegos sedentos por opiniões sobre assuntos comuns. :S
De qualquer forma, defendo o direito dos radicais criticarem... pessoas de renome tem um papel de importância ao mostrar ao mundo a opinião sobre as mazelas da humanidade.
É lógico que o extremismo pode invalidar todo um discurso (mesmo que os argumentos sejam justos) mas ainda tem seu lado positivo ao polemizar e chamar a atenção pro assunto discutido. Principalmente numa realidade em que a impecilidade virou lugar comum!
"Li com entusiasmo no site da Folha..." Bora atualizar isso aqui?
Abraço!
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